Evento marca a evolução do foco de atuação do Sense-Lab
No dia 07/12, Andreas do Sense-Lab, fez a palestra de abertura do Seminário de Universidades Corporativas e Escolas de Governo (SUCEG) em Florianópolis. O evento, que teve a presença do Secretário de Segurança Pública de Santa Catarina, reuniu diferentes perfis de participantes, desde organizações públicas como a Polícia Militar, Advocacia Geral da União e os Correios, até membros da academia e grandes e médias empresas. O foco do evento foi explorar os avanços no aprendizado organizacional, em especial discutir o surgimento de Universidades Corporativas em Rede, com foco em colaboração entre organizações e setores diversos, em especial academia, governo e iniciativa privada. Se originalmente o aprendizado organizacional era focado em funções específicas das equipes internas, ele cada vez mais migra para um modelo multi-stakeholder que transcende as fronteiras organizacionais.
O Sense-Lab foi chamado para a palestra de abertura do evento para, na fala dos organizadores, “chacoalhar e provocar a plateia”. Com esse intuito a apresentação teve como tema “Organizações e Sistemas Regenerativos: Um novo padrão para a economia, a sociedade e os negócios”.
A palestra marca uma evolução de temática abordada pelo Sense-Lab, fruto das inúmeras experiências, interações e estudos nos últimos 3 anos e meio. Este é um dos primeiros passos do reposicionamento estratégico do Sense-Lab para 2018, com o objetivo de apoiar organizações a incorporarem conceitos como propósito evolutivo, autogestão, integração de stakeholders e foco regenerativo (redução de externalidades negativas e maximização dos impactos positivos).
A retenção de talentos, a necessidade de inovar e ser relevante para a sociedade, e a pressão das diferentes partes interessadas por um posicionamento mais consciente faz com que empresas estejam sedentas por novos modelos.
A palestra teve 3 momentos, se iniciando com uma contextualização do nosso momento atual e os grandes desafios coletivos que enfrentamos. Para isso foi trazido o modelo das três desconexões de Otto Scharmer: A desconexão social, a desconexão ecológica e a desconexão espiritual. Se vivemos em uma época de rápidas mudanças, repleta de oportunidades e ferramentas tecnológicas sem precedentes, também temos estas grandes questões a equacionar. Montamos um sistema econômico que ainda deixa uma parcela gigantesca da população às margens dos benefícios gerados, vivendo em periferias urbanas empobrecidas, que consome recursos a uma taxa muito maior do que a capacidade de regeneração natural e que coloca os indivíduos em trajetórias profissionais desprovidas de qualquer propósito além do dinheiro.
O segundo momento foi focado em entender padrões emergentes e singularidades.
“Uma singularidade pode ser definida como um ponto no espaço-tempo no qual uma pequena mudança pode desestabilizar todo um sistema, levando-o a um novo ponto de equilíbrio. "
Os indivíduos e as organizações se movimentam dentro de sistemas econômicos, mas muitas vezes falhamos em entender que toda a economia está contida dentro de sistemas sociais maiores, que por sua vez são só uma fração dos nossos ecossistemas naturais. Essa falha de entendimento está na raiz de muitos dos problemas que estamos causando. Se nos organizamos e vivemos como se tudo se resumisse a geração de valor financeiro e produção, logo geramos enormes impactos sobre os ecossistemas (exaustão de recursos naturais), sobre a sociedade (desigualdade e pobreza) e sobre os indivíduos (falta de propósito, solidão e doenças como depressão e ansiedade).
Existem fortes sinais de que este modelo não se sustenta no logo prazo. Um sistema em geral pode manter uma aparência de estabilidade até que surge uma ruptura, ou singularidade, que desestabiliza a ordem vigente e leva a um novo ponto de equilíbrio. Isso aconteceu recentemente com a queda do Muro de Berlim e a subsequente queda da União Soviética. A ordem mundial pós-guerra se desestruturou em poucos meses e chegou a um novo ponto de equilíbrio. Quando se está imerso em um sistema, como estamos atualmente, é mais difícil perceber os padrões emergentes, a possibilidade de uma nova singularidade ou ruptura.
Os movimentos atuais foram abordados em 3 níveis: lideranças, organizações e sistemas sociais (redes e governança coletiva). Alguns dos padrões organizacionais emergentes que foram trazidos são: o questionamento do propósito das organizações, em especial as empresas e corporações; as rápidas mudanças nas estruturas organizacionais, cada vez mais orgânicas e menos presas a hierarquias; a tendência de nos organizarmos cada vez mais em redes e menos em organizações com fronteiras rígidas; a busca da integralidade do indivíduo no trabalho; e o questionamento do impacto (externalidades positivas e negativas) das organizações.
Enquanto avançamos século XXI adentro, cada vez mais estamos migrando para um paradigma marcado por agilidade, fluidez, fronteiras organizacionais fluidas, empoderamento criativo e junção de lucro com propósito. Neste contexto existem vários movimentos surgindo, incluindo Capitalismo Consciente, Empresas B, Negócios de Impacto Social, Organizações Evolutivas, entre muitos outros.
Para contextualizar a evolução organizacional foi trazido o modelo de níveis de consciência e principais paradigmas organizacionais desenvolvido por Frederic Laloux com base na Teoria Integral. Basicamente Laloux defende que existe uma evolução na forma como nos organizamos ao longo da história, desde os bandos selvagens da pré-história até as organizações focadas em planejamento e controle, meritocracia e a maximização do lucro para o acionista (chamado de padrão laranja), que é a marca das principais empresas e corporações atuais. Os diferentes estágios estão ilustrados na figura abaixo e além de terem marcado momentos históricos específicos, eles coexistem na atualidade em diferentes situações, como ONGs (padrão verde focado em stakeholders), igreja e exército (padrão âmbar focado em hierarquias) e gangues de rua (padrão vermelho focado em chefes fortes). Laloux identificou uma série de organizações que transcenderam o chamado padrão meritrocrático e competitivo (laranja) e as organizações típicas do terceiro setor (verdes) e que passaram a operar de forma mais efetiva com foco em propósito, tendo como marca a integralidade de seus colaboradores e a autogestão (ausência de hierarquias rígidas).
Fonte: Kevan Lee, como base no livro Reinventing Organizations, Frederic Laloux
Entendemos que os movimentos listados se complementam e buscam uma evolução do nosso modelo econômico atual. Em especial ressaltamos a necessidade de buscarmos sistemas e organizações regenerativas, que foquem em recompor os sistemas sociais e naturais, já que a sustentabilidade (ausência de impacto negativos) não é mais suficiente para o nosso momento atual. Parece utópico, mas já existem milhares de organizações operando nesta lógica.
Para todos esses movimentos acontecerem, é necessária uma evolução no nível de consciência da liderança nos diferentes setores. Apesar do agravamento de diversos problemas na atualidade, para o observador mais atento, é visível que uma massa de pessoas está migrando para esse nível de consciência com foco mais sistêmico e holístico, que olha também para o coletivo, além do bem estar individual. Esse talvez seja o sinal mais animador de mudança.
Por fim, a palestra se encerrou trazendo toda essa discussão para a evolução do aprendizado organizacional, que tende a ser cada vez mais fluido e aberto, conectando redes de organizações e indivíduos e fazendo a ponte entre os interesses individuais dos colaboradores e o foco estratégico das empresas.
Este é só um gostinho do que está por vir em 2018. Aguarde!
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