Enfim chegamos. Cá estamos em um momento singular. Em uma encruzilhada global onde não podemos voltar atrás e não temos a menor ideia de como seguir adiante.
No século XX testamos todos os limites e rasgamos a boca do balão. Ocupamos o mundo. Desenvolvemos uma rede global de comunicação. Conquistamos os céus e o espaço. Estendemos cadeias de produção por todo o globo. Rompemos fronteiras. Produzimos e consumimos cada vez mais. Extraímos petróleo e carvão das profundezas e geramos energia a um ritmo alucinante. Expandimos as fronteiras agrícolas e a produção de alimentos. Levamos a população humana de 1,5 bilhão para mais de 7 bilhões de pessoas em pouco mais de 3 gerações.
Vivemos como se não houvesse amanhã. Mas o amanhã chegou. E o mundo ficou pequeno.
Nos desenvolvemos consumindo uma poupança de recursos na forma de estoque de combustíveis fósseis e capital natural renovável. Dilaceramos florestas e abarrotamos os oceanos de resíduos. Extinguimos espécies como nunca antes e desestabilizamos o clima. Geramos riqueza para alguns, mas muitos ficaram para trás. E estamos encontrando os limites.
"Sem água, sem biodiversidade, com um colapso climático e agrícola e deterioração social, erodimos as bases que nos sustentam. E o que sobra? O dinheiro? Dinheiro não se come."
A Europa está ardendo todos os anos, as maiores cidades da Índia estão ficando secas, a Amazônia se aproxima do limite de não retorno. Oscilamos entre as grandes secas e dilúvios. Os estoques pesqueiros estão se exaurindo e o mundo está cada vez mais tensionado pelo excesso de pessoas e grandes movimentos migratórios causados pela pobreza de recursos. Estamos cada vez mais individualistas e sozinhos em meio a multidão.
Anestesiados, pessimistas, enfurecidos e doentes, nos perdemos nos falsos embates. Criamos inimigos imaginário e erguemos armas para opositores que não existem. Nos perdemos em soluções simplistas para problemas profundos e sistêmicos. Estamos furiosos e impotentes, porque os limites estão cada vez mais evidentes. Estamos esperando o próximo governo que vai trazer a reforma das reformas e destravar o desenvolvimento. Como se o desenvolvimento como o entendemos e concebemos no passado recente não fosse justamente o problema. Os salvadores hora são esperados à esquerda, hora à direita e a solução nunca chega. Não nos damos conta que nos perdemos em um debate que só serve para justificar uma visão polarizada de espectros políticos, ultrapassada e descolada do mundo e dos desafios atuais. E eles são muitos e urgentes. Se paramos de criar os inimigos, extingue se a necessidade das armas. Os limites são de visão de mundo e de percepção.
Os discursos se radicalizaram. Muitos tentam se agarrar ao que é familiar e neste momento de instabilidade, muitas vozes do passado voltam trazendo visões simplistas e extemporâneas. Mas o passado ruiu e não há retorno.
Para transcender a polarização sem sentido, o debate raso e o foco no confronto pelo confronto, precisamos desenvolver agendas construtivas e colaborativas que nos ajudem a enfrentar de fato os grandes desafios sistêmicos que temos pela frente.
Em mundo superpovoado e uma época de esgotamento dos modelos de desenvolvimento econômico e social, uma crise global de governança e representatividade política e a aproximação rápida de um colapso ambiental e climático, somente uma visão positiva e propositiva com foco em novas formas de agirmos, nos organizarmos e fazermos negócios pode indicar caminhos alternativos viáveis. Novas formas que reconheçam e respeitem o passado, mas que apontem para o futuro.
Precisamos falar sobre o futuro!
Precisamos de uma narrativa positiva de futuro. Um debate ao mesmo tempo unificador e plural. Que permita o contraditório, mas que convirja para endereçar os desafios comuns.
Como disse Martin Luther King Jr. "O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
Então onde estão as respostas? Onde está a revolução que precisamos?
A revolução está em todo lugar. Nas escolas, nas empresas, nos governos e nas ruas. A revolução é de reflexão e diálogo, de debates profundos. De valores, de modelos mentais e de ações. A revolução somos nós. Precisamos ir às ruas, não para confrontar e agredir, mas para dialogar, exigir e para agir por um mundo melhor.
Não somos heróis. Não temos heróis. Nós somos todos e não somos ninguém.
A democracia está em crise não porque ela se esgotou, mas porque ela precisa evoluir. O sistema econômico e as empresas estão tencionados, não porque não tem espaço, mas porque precisam inovar e se reinventar. Porque precisam ressignificar o seu papel e responsabilidade dentro de um sistema maior. A antiga divisão entre os setores não faz mais sentido. Governo, organizações da sociedade civil e empresas são fios da mesma teia. Empresas não vivem à parte da sociedade e dos sistemas naturais. Elas são sistemas vivos integrados a esses sistemas maiores. E como tal possuem uma responsabilidade e potencial enorme em regenerar esses tecidos. Afinal elas têm tudo a perder.
Nada disso é possível se nos prendermos a modelos ultrapassados e fecharmos nossa escuta para o novo. Precisamos ousar, precisamos inovar e precisamos nos ressignificar.
Nos perdemos e agora precisamos nos reencontrar.
Chegamos até aqui, mas precisamos falar sobre o futuro. É urgente.
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